Pires do Rio

Pensamentos intrusivos: o que são, por que surgem e como lidar com eles

Compreenda as causas dos pensamentos intrusivos e conheça estratégias eficazes para enfrentá-los com equilíbrio emocional
Pensamentos intrusivos: o que são, por que surgem e como lidar com eles
Pensamentos intrusivos: o que são, por que surgem e como lidar com eles

Você já esteve no volante e, do nada, imaginou o carro saindo da pista? Já olhou para uma escada e pensou em empurrar alguém, mesmo sem intenção ou vontade de fazer isso? Ou, talvez, durante uma reunião de trabalho, teve flashes de pensamentos sexuais completamente fora de contexto? Se sim, não se assuste — você não está sozinho. Esse fenômeno tem nome e afeta milhões de pessoas: são os chamados pensamentos intrusivos.

Essas ideias surgem de forma repentina, involuntária e muitas vezes assustadora. Podem envolver temas violentos, inadequados, desconfortáveis ou incompatíveis com os valores da pessoa que os experimenta. A boa notícia é que pensar algo não significa querer fazer ou concordar com aquilo. E entender essa diferença é o primeiro passo para lidar com esses episódios de forma saudável.

Apesar de comuns em diferentes graus entre as pessoas, quando recorrentes ou intensos, podem gerar angústia, ansiedade e confusão.

“Ter pensamentos intrusivos é absolutamente normal. O problema começa quando a pessoa acredita que o conteúdo do pensamento diz algo negativo sobre ela mesma e tenta suprimir ou neutralizar essa ideia”, explica Cristina Seixas, psicóloga clínica e membro da Associação Brasileira de Terapias Cognitivas (ABTC), em entrevista à Revista Galileu.

Exemplos comuns de pensamentos intrusivos

Os tipos mais relatados incluem:

  • Medo de fazer mal a alguém, mesmo sem intenção
  • Imagens violentas ou perturbadoras
  • Dúvidas obsessivas sobre comportamentos passados
  • Impulsos sexuais inapropriados
  • Questionamentos sobre identidade, crenças ou fé
  • Medo de perder o controle e cometer algo inaceitável

“Esses pensamentos não refletem a vontade da pessoa. Na maioria das vezes, são o oposto daquilo que ela valoriza. É por isso que causam tanto incômodo”, destaca Leonardo Mota, psiquiatra da Unicamp, em entrevista à Folha de S.Paulo.

Por que os pensamentos intrusivos surgem?

Eles podem ser resultado de fatores psicológicos, neuroquímicos e ambientais. Os mais comuns são:

1. Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)

A psicóloga Daniela Diniz, especialista em TOC, explica ao UOL VivaBem:

“O pensamento intrusivo é o ponto de partida das obsessões no TOC. O problema não é o pensamento em si, mas a forma como a pessoa reage a ele.”

2. Transtornos de ansiedade

A mente ansiosa tende a superinterpretar ameaças, o que favorece a intrusão de ideias alarmantes.

“A ansiedade amplifica a percepção de risco, fazendo com que a mente busque ameaças o tempo todo. Isso cria o ambiente ideal para o surgimento de pensamentos intrusivos, especialmente os de conteúdo negativo”, explica a psiquiatra Ana Carolina Peuker, presidente da Associação Brasileira de Psicologia da Saúde.

Exemplo prático: uma pessoa com transtorno de ansiedade generalizada (TAG) pode estar se preparando para dormir quando, de repente, é invadida pelo pensamento: “E se eu tiver um infarto agora e ninguém me socorrer?” Mesmo sem sinais físicos reais, o pensamento ativa sintomas como falta de ar, taquicardia e insônia. O medo se retroalimenta, dificultando a distinção entre realidade e fantasia.

Esse tipo de pensamento não reflete uma ameaça concreta, mas sim a hiperatividade do sistema de vigilância mental, típica dos transtornos ansiosos.

3. Estresse elevado e traumas

Segundo o Manual MSD, situações traumáticas ou estressantes podem desencadear pensamentos involuntários e repetitivos, principalmente em casos de TEPT.

4. Desequilíbrios neuroquímicos

A psiquiatra Ana Carolina Peuker, presidente da Associação Brasileira de Psicologia da Saúde, explica:

“Fatores genéticos e neuroquímicos também influenciam. Um desequilíbrio na regulação da serotonina, por exemplo, pode favorecer quadros obsessivos e ansiedade generalizada.”

Como lidar com pensamentos intrusivos?

Especialistas indicam que o enfrentamento saudável começa pela aceitação da existência do pensamento, sem reagir de forma impulsiva ou condenatória.

1. Observe sem se envolver

“Aceitar o pensamento como um ruído mental, sem brigar com ele, é uma estratégia poderosa. Isso o torna menos ameaçador”, explica o psicólogo clínico André Rabelo, em entrevista à BBC Brasil.

2. Evite tentativas de ‘anular’ o pensamento

“Tentar compensar ou neutralizar o pensamento intrusivo com rituais só reforça o ciclo. O melhor é aceitar e seguir em frente”, afirma o psiquiatra Rodrigo Bressan, da Unifesp.

3. Busque terapia cognitivo-comportamental (TCC)

A TCC é amplamente recomendada para tratar pensamentos intrusivos e obsessivos. Segundo o Conselho Federal de Psicologia (CFP), essa abordagem ajuda o paciente a reinterpretar o conteúdo mental de forma funcional.

4. Pratique mindfulness

Técnicas de atenção plena treinam o foco no momento presente e ajudam a não alimentar o pensamento. Estudos publicados na revista científica Mindfulness mostram redução significativa de sintomas obsessivos com a prática regular.

Quando procurar ajuda?

A orientação é buscar apoio profissional se os pensamentos:

  • Causam sofrimento intenso ou medo constante
  • Levam a comportamentos compulsivos
  • Interferem no sono, na rotina ou na vida social
  • Estão acompanhados de depressão, pânico ou ideação suicida

Pensamentos intrusivos são comuns e não definem a pessoa que os tem. Compreender seu funcionamento e reagir com consciência é essencial para evitar o sofrimento desnecessário. A ajuda de psicólogos e psiquiatras qualificados é fundamental nos casos persistentes, especialmente quando há prejuízo na qualidade de vida.

“O pensamento é involuntário, mas a forma como lidamos com ele é uma escolha. Treinar essa habilidade é possível — e libertador”, finaliza a psicóloga Cristina Seixas.

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